18 de fev. de 2008

Duvidas e curiosidades....

ONDE OU AONDE?



Muita gente troca os pés pelas mãos, usando um pelo outro. Nada disso.

Aonde só deve ser usado com verbos que indicam movimento, isto é, verbos dinâmicos, tais como ir, vir, voltar, retornar, chegar, levar, sair, subir, descer, etc. Afinal, quem vai, vai a algum lugar (a + onde = aonde). Ex.:

Aonde você vai hoje?
Aonde você quer chegar?
Ela vai aonde ele vai.
Vamos levar as meninas aonde?

Onde se usa com verbos estáticos ou de quietação. Ex.:

Onde estão as meninas?
Onde fica sua casa?
Você ficou hospedado onde?
Nunca sei onde ela está.

ALUGUEL ou ALUGUER

O leitor talvez estranhe, mas, acredite, as duas formas estão corretas. Aluguel é, sem dúvida, a forma mais usada no nosso dia-a-dia. A forma aluguer, cujo plural é alugueres, é mais comum em Portugal e na linguagem jurídica. Portanto, não estranhe quando alguém que fala um bom português e não é viciado em rotacismo[1] lhe perguntar:

Você já pagou o aluguer?

Os alugueres de sua casa estão em dia?

[1] Rotacismo é o uso habitual, ou muitas vezes vicioso, do erre, ou seja, pronúncia ou escrita do erre em lugar de outra letra. É o caso, por exemplo, de armoço em vez de almoço, arface em vez de alface, borsa em vez de bolsa, etc., muito comum em nossa região, por ignorância, vício ou, até, por uma certa "demagogia verbal" do quem fala, querendo ser mais popular aos olhos de seu interlocutor.



..E O MESMO...



Não é gramaticalmente errado, mas desaconselhável, em qualquer tipo de redação, o uso de o mesmo substituindo um pronome, como nos casos abaixo, muito comuns na linguagem policial e forense:

Os policiais foram rapidamente ao local, tentar capturar os assaltantes, mas os mesmos fugiram, sem deixar pistas.

Fiz uma pergunta à professora, mas a mesma não me respondeu nada.

Fui à casa de Pedro, no entanto o mesmo não estava..

Devemos evitar construções desse tipo. Sejamos mais elegantes:

Os policiais foram rapidamente ao local, tentar capturar os assaltantes, mas estes fugiram, sem deixar pistas.

Fiz uma pergunta à professora, mas esta (ou ela) não me respondeu nada.

Fui à casa de Pedro, mas ele não estava.

Eis outros exemplos interessantes:

A inauguração do clube foi ontem, e a ela (e não à mesma) compareceu muita gente.

O caso foi presenciado por Geraldo, que nada quis dizer a respeito (nunca: e o mesmo não quis. dizer nada a respeito).

O oficial de justiça intimou o rapaz, mas este se negou a comparecer em Juízo (nunca: mas o mesmo se negou a comparecer em Juízo).

Procure, pois, quando redigir qualquer tipo de texto, nunca usar o mesmo dessa forma. É abominável. Demonstra pobreza absoluta de estilo.


CADÊ?



Temos a impressão de que esta é uma das palavras mais usadas em nosso dia-a-dia. Toda hora dizemos: Cadê meu lápis? Cadê Maria? Cadê João? Contudo, trata-se de uma palavra que não deve ser usada na linguagem formal, escrita, como, por exemplo, em redações, etc. Existem ainda quedê e quéde. São, na verdade, formas reduzidas da expressão que é (feito) de. Exemplifiquemos:

Cadê meu carro? ou

Que é de meu carro? ou

Que é feito de meu carro?



DAR À LUZ.



Deparamos, agora, com um caso bastante interessante. Quando nasce uma criança, dizemos que sua mãe deu à luz um filho ou uma filha. Ocorre que luz, nesse caso, significa mundo. Então, dá-se à luz, isto é, ao mundo um filho, uma filha. Vejamos alguns exemplos absolutamente corretos:

Solange deu à luz (ao mundo) uma criança lindíssima.
Maria deu à luz trigêmeos.(ou Maria deu ao mundo trigêmeos).
Maria deu à luz (ao mundo) vários filhos durante sua vida.


O DOCE DE QUE EU GOSTO.



Corretíssimo! Essa é a forma rigorosamente correta! O verbo gostar pede a preposição de, pois quem gosta, gosta de alguma coisa ou — quem sabe! — de alguém, possivelmente. Portanto, não devemos dizer nem escrever

O doce que eu gosto.
Ela é a pessoa que eu gosto mais.

Diga e/ou escreva sempre desta forma::



Maçã é a fruto de que mais gosto.
Gosto muito de você.
Esta é a fruta de que gosto.
Aquela é a moça de quem ele gosta.

DUZENTAS GRAMAS DE QUEIJO!? EXISTE!?



Não, isso definitivamente não existe. A grama (no feminino) é capim. Grama, unidade de medida, é masculino. Devemos, portanto, dizer ou escrever assim:

Dê-me duzentos gramas de queijo, por favor.
Quero trezentos gramas de presunto.
O elemento foi preso com dois gramas de cocaína.

Mas atenção:

Preciso aparar a grama de meu jardim.



FAZEM DOIS ANOS OU FAZ DOIS ANOS?



Eis aí um erro muito freqüente.


Fazem dois anos que nos casamos.


Cuidado: isso definitivamente não existe. O verbo fazer, quando indica tempo decorrido, não deve variar, ficando sempre na terceira pessoa do singular. Ex.:


Faz duas horas que ela está se arrumando.

Ontem fez um ano que nos casamos.

Amanhã fará duas semanas que não a vejo.

Fazia tempo que não falava com ela.


Quando há verbo auxiliar, também não haverá variação. Ex,:


Vai fazer dez anos que saí da Capital.

Ia fazer três anos que não nos falávamos.


Outro caso bastante interessante, também passível de erros constantes, é o verbo haver quando significa acontecer, existir, realizar-se ou fazer. Ele não varia, permanecendo, também, na terceira pessoa do singular. Por essa razão, nada de houveram isso, houveram aquilo. Observe os exemplos que seguem:


Havia muitas pessoas na sala.

Sem dúvida, haverá muitas festas no próximo mês.

Há meses não vejo Heloísa.


Se houver verbo auxiliar, este também, não sofrerá variação. Ex,.:


Poderá haver mais guerras futuramente.

Está havendo reuniões constantes no clube.

Deve haver meses que não a vejo.



HISTÓRIA OU ESTÓRIA?



Em rigor, deveria ser só história, palavra que vem do latim historiam, derivado do grego historía. Todavia o Prof. Antonio Geraldo da Cunha[1] nos informa que o historiador e folclorista brasileiro Luis da Câmara Cascudo teria sugerido a introdução, na linguagem do folclore e das ciências humanas em geral, a variante popular e arcaica estória, para designar, especificamente, os contos, narrativas, tradições e lendas populares. Já o prof. Luiz Antonio Sacconi[2] afirma que o lingüista João Ribeiro é quem teria sugerido a introdução da palavra estória em nossa linguagem oficial.

Seja como for, e mesmo contrariando alguns estudiosos mais conservadores da língua e o que ditam alguns dicionários,[3] o fato é que, no português contemporâneo, a diferença existe e já está amplamente consagrada: história aplica-se a fatos reais, verídicos e comprovados em documentos. Já estória usa-se para narração fictícia, contos infantis, lendas, fábulas, balelas, conversas fiadas, etc. A palavra estória vem do latim vulgar.

Na língua inglesa, essa diferenciação também já existe há muito tempo: grafa-se “story”, para as narrações de ficção, contos, etc., e “history”, para a narração dos fatos reais.

Quando a palavra história designa a ciência que estuda e registra a vida e a evolução política, social econômica e cultural dos povos, devemos grafá-la com inicial maiúscula.

Não há registro na História sobre a fundação de Roma.

[1] CUNHA, Antônio Geraldo da, Dicionário Etimológico Nova Fronteira da Língua Portuguesa, Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1982, pág. 414.

[2] SACCONI, Luiz Antonio, Não Confunda, Ribeirão Preto (SP), Nossa Editora, 1990, pág. 93.

[3] O Novo Dicionário Aurélio, na página 724 de sua 2.a edição — revista e aumentada —, recomenda “apenas a grafia de história (grifo nosso), tanto no sentido de ciência histórica, quando no de narrativa de ficção, conto popular e demais acepções”.



MIL REAIS OU “HUM” MIL REAIS?

“Hum” mil reais ou simplesmente mil reais?

Que fique bem claro, de uma vez por todas: não existe “um mil” nem tampouco “hum mil” (com h, que é de doer!). O que existe, e sempre existiu, é mil, somente mil. Estamos no ano de mil novecentos e noventa e sete, e não no ano de “um mil novecentos e noventa e sete” ou “hum mil novecentos e noventa e sete”, que é pior ainda..

Eu, para evitar discussões com apedeutas teimosos, na hora de preencher um cheque de, por exemplo, R$1.000,00, grafo da seguinte forma: “hum” mil reais (com hum, palavra inexistente em nosso idioma, entre aspas). Contudo, a forma rigorosamente correta de se grafar, por extenso, R$1.000,00 é simplesmente mil reais, e só. Mas vá você tentar convencer os ignorantes de plantão disso!...



INTERIM ou ÍNTERIM?



Por ser palavra de aparência "elegante", muita gente metida a intelectual gosta de dizer:

Nesse interim fiquei esperando o Dr. Salgado.

Ela saiu por algumas horas. E eu, nesse interim, fiquei lendo.

Muito bonito! Muito elegante!... Só que não é interim, mas ínterim. Isso mesmo: trata-se de palavra proparoxítona, e não paroxítona, como querem os "elegantes", os "cultos", os "intelectuais" de almanque de farmácia. A palavra é, pois, ÍNterim, com acento tônico e gráfico (para não deixar dúvida) na antepenúltima sílaba.



OBRIGADO OU OBRIGADA?



Cuidado, muito cuidado! Ao agradecer alguém, um homem diz: obrigado! Uma mulher, por sua vez, diz: obrigada! Quando se trata de mais de um homem, dizem: obrigados!. Quando são mais de duas mulheres, dizem elas: obrigadas!

Será que deu para perceber a diferença? Espero que sim, pois é muito esquisito ouvir uma moça, uma senhora ou uma menina dizer o horrendo obrigadão..

A propósito, você, naturalmente, pode querer saber por que quando agradecemos dizemos obrigado, obrigada, obrigados ou obrigadas? Segundo o Prof. Antonio Cruz Neto,[1] a expressão obrigado e suas variantes revelam-nos dois fenômenos lingüísticos importantes: a braquilogia, que é o encurtamento, a redução de uma palavra ou expressão, sem prejudicar o sentido, o significado (pneu por pneumático, cinema por cinematógrafo, etc) e a obliteração semântica, que é a perda de sentido (suicidar-se por suicidar, comigo por migo, etc.). Isso quer dizer que tínhamos primeiramente o seguinte:

Eu fico muito obrigado(a) a um agradecimento.

Segundo o Prof. Cruz Neto, a palavra obrigado perdeu a significação própria de forçado, imposto, determinado. (ocorreu aí uma obliteração semântica) e incorporou ou assimilou por contágio o sentido da palavra seguinte da expressão original (agradecimento), a qual, por sua vez, desapareceu da expressão atual (braquilogia) É por isso que utilizamos a palavra obrigado(a) e obrigada(s) para manifestar agradecimento.

[1] CRUZ NETO, Antonio, Só erra quem quer, São Paulo, Iglu, 1990, pág. 88.

REGISTRO ou REGISTO?

Você pode até não acreditar, mas as duas formas são absolutamente corretas. A forma mais usado é registro, oriundo do latim medieval registrum, é, sem dúvida, a mais usada. A forma registo, que, segundo nos informa o Prof. Antonio Cruz Neto, em seu trabalho SO ERRA QUEM QUER (Editora Iglu, São Paulo, 1990, pág. 115) veio do latim clássico registum, é pouquíssimo usada no português contemporâneo, mas nem por isso menos correta.

SITUADO À RUA OU SITUADO NA RUA?



É muito comum, em documentos, jornais e até em livros, depararmos com isto:

A loja situa-se à Rua José da Silva, n.o 23.

A loja se situa em alguma lugar. Quem mora, mora em alguma lugar, em uma determinada rua, praça, alameda, etc. Portanto, não há dúvida quanto à preposição correta a ser empregada. Veja os exemplos que seguem:

A cerimônia se realizou na Igreja de São Sebastião, situada na Rua das Oliveiras.
O estabelecimento situa-se na Rua dos Andradas.
Marina mora na Rua Pernambuco.
Restaurante sito na Rua Alagoas.

Ob.: Sito é uma forma abreviada de situado, assim como sita é forma abreviada de situada.

Conforme demonstra o eminente Prof. Antônio Cruz Neto, em sua interessante obra SÓ ERRA QUEM QUER, a maior prova da legitimidade do uso da preposição em em casos como esse é a presença dessa mesma preposição em frases interrogativas como estas:

Em que rua você mora?
Em que rua está situada a escola?
Em que rua reside Maria?

Alguém já perguntou ao Prezado Leitor a que rua você mora? Acho que não.

Em Portugal, aceita-se o uso da preposição a. Ex.:

A rapariga mora à Rua Tal.

TENHO MUITO DÓ DELE.



É isso mesmo: dó (pena, compaixão) é substantivo masculino. Devemos sempre dizer:

Estou com muito dó dela.
Tenho um dó dele!



BARGUILHA ou BRAGUILHA?



A forma correta é braguilha. Por quê? Porque a apalavra braguilha vem de braga (calça). A forma popular barguilha não encontra nenhum amparo na ordem gramatical. Portanto, quando quiser se referir àquela abertura dianteira que existem nas calças, diga e/ou escreva sempre: braguilha.


Cuidado: há pessoas que dizem "barguia". Horrível!



MAGÉRRIMO ou MACÉRRIMO?

É comum ouvirmos isso, principalmente da "peruada" de plantão:

Nossa, querida, como você está magérrima!
Como Adriana está magérrima!
Menina, com esse regime você ficou magérrima!

Tudo asneira! Tudo bobagem! O superlativo sintético de magro é — acredite e guarde isso na memória para não passar vergonha — macérrimo, e não "magérrimo", como muita gente diz por aí. Ex.:

Menina, depois desse regime você ficou macérrima!
Ele está mesmo mal: triste, pálido, desalinhado e macérrimo.


ESTE e ESSE


Um leitor de nosso site pergunta qual a diferença entre ESTE e ESSE.

A pergunta é pertinente, pois muita gente troca os pés pelas mãos, usando um pelo outro.

ESTE e ESSE são pronomes demonstrativos.

ESTE indica que o objeto demonstrado está perto da pessoa que fala.
Ex.: Este carro é meu (o carro está perto da pessoa que está falando)

ESSE - indica que o objeto demonstrado está longe da pessoa que fala e perto da pessoa com quem sa fala)
Ex.: Esse carro é meu.

AQUELE - indica que o objeto está longe de quem fala e também da pessoa com quem se fala.
Ex.: Aquele carro é meu.

Até aí, tudo bem, não é mesmo?

Quando redigimos um ofício ou uma carta comercial, temos de estar atentos.

"Informo que ESTA empresa já recebeu os pedidos feito por ESSA conceituada instituição".

Veja que ESTA é a sua empresa, onde você está, a empresa de onde está saindo a carta. Já ESSA refere-se à instituição à qual você está se dirigindo, à qual está enviando a carta.

Em relação a tempo, ocorre o mesmo. ESTE ano é o ano em que nós estamos. ESSE ou AQUELE ano é outro ano, que não o atual. O mesmo ocorre com relação a dia, mês, semanas, etc.

Simplificando:

ESTE / ESTA / ISTO = aqui, agora.

ESSE / ESSA / ISSO = aí, naquele dia/ano/mês, etc.

AQUELE / AQUELA / AQUILO = ali, naquele dia/mês/ano, etc.



Autônomo e autônoma


Ume leitora me enviou uma mensagem perguntando se, a par de autônomo, o trabalhador independente, sem vínculo empregatício com ninguém, também existe autônoma (forma feminina). Ela alega que teria sido chamada a atenção no seu trabalho, pois disseram-lhe que não existe autônoma, e sím somente autônomo.

Na verdade, uma pessoa que exerce, sem nenhum vínculo empregatício, uma atividade profissional remunerada é um trabalhador autônomo. Ocorre, no entanto, que, muitas vezes, em fiel obediência à famosa lei do menor esforço, a gente costuma dizer apenas autônomo, omitindo o substantivo trabalhador.

Assim sendo, como existe o (trabalhador) AUTÔNOMO, também existe, é claro, a (trabalhadora) AUTÔNOMA.

É tão simples, não é mesmo? Mas tem gente que gosta de inventar, principalmente no mundo da burocracia.

Devedor insolvente
Uma leitora me pergunta se é correto dizer insolvência econômico-financeira.

A palavra solvente vem do latim solvens,entis, que é particípio presente do verbo solvère, que significa "desligar, decompor, dissolver, desunir, desatar, pagar, satisfazer (uma dívida, um ônus, uma questão), saldar, levantar âncora, livrar-se de um voto, resolver (uma questão ou um assunto qualquer).

No português contemporâneo, solvente é o devedor que paga ou que pode pagar suas dívidas. insolvente (in + solvente) é aquele que não pode pagar o que deve. É diferente de inadimplente, que é aquele que não paga o que deve, podendo ou não pagar.

Portanto, dizer insolvência econômico-financeira ma parecer ser um pleonasmo desnecessário.

Dúvidas de ortografia

Uma visitante de nosso site pergunta sobre a grafia das palavras fuzil. fusível e enfatizar.

Nossa ortografia é baseada na etimologia, ou seja, na origem da palavra.

A palava fuzil se origina do latim vulgar "fociles", derivado de "focus" (fogo). A influência semântica da palavra vem do franês "fusil" (com "s"),mas a grafia zom "z" justifica-se por causa de sua origem latina.

A palavra fusível, apesar de um pouco parecida, tem origem diferente. Vem do latim "fusus" (fundido, ligado ao termo "fusão").

Já a palava ênfase tem origem grega ("émphasis"). Trata-se de um substantivo faminino. Já enfatizar é um verbo derivado do substantivo ênfase.

Veja que, em nosso site, na parte dedicada à ortografia, dizemos que verbos terminados em -izar e -isar seguem os seguintes critérios:

a) Quando o substantivo correspondente ao verbo traz is + vogal, deve ser grafado com -isar.

Ex.: aviso/avisar, paralisia/paralisar, friso/frisar, análise/analisar, pesquisa/pesquisar, etc. Exceções: iris/irisar e bis/bisar.

b) Quando o verbo cujo substantivo correspondente não traz is + vogal, deve ser grafado com -izar.

Ex.: economia/economizar, humano/humanizar, catequese/catequizar, fiscal/fiscalizar, ênfase/enfatizar, etc.



TELEFONE CELULAR

Você, provavelmente, já deve ter se perguntado por que os modernos telefones móveis são chamados de celular ou telefone celular.

Acontece que cada área coberta por uma torre retransmissora de telefonia móvel é denominada tecnicamente de "célula". Daí o termo telefonia celular, telefone celular, ou simplesmente celular.

Mas, se você for a Portugal, vai estranhar, porque, lá, eles chamam o telefone celular de telemóvel.

O termo telefone celular, ou somente celular, vem do inglês cellular, também comum nos Estados Unidos. Lá também se usa o termo cell phone ou simplesmente cell.

CIVIL e CÍVEL
Uma visitante do site LIÇÕES DE PORTUGUÊS me questionou sobre a diferença entre civil e cível. Depois de responder à visitante por e-mail, achei oportuno apresentar esse assunto aqui em nosso blog.

Em princípio só deveria ser civil. No entanto, no âmbito do direito, civil e cível coexistem, mas não são exatamente sinônimos.

Cível é palavra malformada, pois sua correspondente (original) em latim é civilis (paroxítona), ou seja, a vogal da penúltima sílaba é mais longa. Segundo a versão eletrônica do DICIONÁRIO HOUAISS DA LÍNGUA PORTUGUESA, a palavra cível surgiu devido a uma "especialização" de sentido que passou a adqurir. Além disso, sua formação é fruto de uma analogia com adjetivos terminados em -ível (audível, comível, bebível, etc.).

Apesar disso, a palavra cível se arraigou em nosso idioma e hoje já está devidamente incorporada ao linguajar forense. Por isso, temos causa cível, juiz cível, vara cível, Usa-se,também, como substantivo, como oposição a crime: juiz do cível.

Já civil, que é a forma rigorosamente correta, diz respeito, segundo o Prof. Sacconi, "ao cidadão, considerdo no seu caráter, condição e relação particulares: guerra civil, vida civil, sociedade civil, obrigações civis, etc. O termo civil ainda é empregado em oposição a militar, eclesiástico ou religioso: polícia civil, traje civil, casamento civil, registro civil".

Há que se ressaltar, no entanto, que, na linguagem forense, a palavra civil é melhor empregada do que cível quando se trata de oposição a criminal: ação civil, processo civil, tribunal civil, etc.

Em resumo: cível, como podemos ver, é palavra de emprego restrito. Já civil é um termo mais abrangente, que, segundo a maioria dos estudiosos da língua, seria mais adequado para todos os casos.

HORÁRIO DE VERÃO


Quando vai chegando o dia em que se inicia o horário de verão, é comum lermos na imprensa ou ouvirmos no rádio ou na TV que devemos adiantar o relógio EM uma hora. O mesmo acontece quando o horário de verão está prestes a terminar. Aí recomendam que a gente atrase o relógio EM uma hora.

Se eu tenho um compromisso às 20h, mas chego ao local combinado às 21h, eu atraso um hora em relação ao horário marcado. Se eu chegar às 19h, no entanto, estaria adiantado uma hora. Note que a gente diz “Estou atrasado uma hora”, e não “EM uma hora”.

Portanto, em rigor, deveriam pedir para a gente adiantar ou atrasar nossos relógios uma hora, e não “em” uma hora. Mas esse hábito de usar a preposição em já está amplamente arraigado em nossa mídia.



AO ENCONTRO DE ou DE ENCONTRO A

Muita gente usa um pelo outro, sem perceber que um tem significato totalmente oposto ao do outro.

Ao encontro de quer dizer favorável, para junto de. Ex:
Essa proposta vem ao encontro dos anseios da população.
Vamos todos ao encontro de nossos colegas.

De encontro a quer dizer contra. Ex:
O carro foi de encontro ao outro.
Essa medida desagradou, pois veio de encontro aos interesses do povo.









Não há "vítimas fatais"



Você, com certeza, já deve ter ouvido alguém dizer que em determinado acidente houve tantas “vítimas fatais”. Mas desconsidere, pois isso não existe.

Fatal é aquilo que causa a morte: acidente fatal, tiro fatal, queda fatal, choque fatal, desastre fatal.

Fatal vem do latim fatális, que significa ‘do destino’, ‘profético’, ‘funesto’, ‘mortal’.

É comum a gente ler e ouvir que tal acidente causou tantas vítimas "fatais". Nada disso.

O acidente com o jato Legacy que colidiu, em 29 de setembro de 2006, com o Boeing 737-800 da empresa aérea Gol, causou 154 vítimas. Todas morreram, e não 154 vítimas "fatais". Em suma: o acidente é que foi fatal, e não as vítimas.




Falando e escrevendo "difícil".


A nível de ideologização (ainda que primariamente dicotômica) há várias leituras para um discurso autoritário enquanto proposta ele mesmo: há uma tríade de codicionantes obseqüentes para que se implante num país e/ou nação uma impostura xenófoba caracterizada por um ufanismo.



Entendeu alguma coisa?

Esse trecho, extraído do livro PARA FALAR E ESCREVER MELHOR O PORTUGUÊS, de Adriano da Gama Cury (Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira, l989, página 15), é uma galhofa do escritor e cartunista Ziraldo publicada no “Caderno B” do Jornal do Brasil em 22 de outubro de 1985.

Você, com certeza, já leu textos com conteúdo semelhante, repleto de palavras difíceis, muitas delas não dicionarizadas, jargões profissionais, com construções adaptadas de línguas estrangeiras, que torna o discurso pomposo e, na maioria das vezes, praticamente incompreensível para a maioria das pessoas.

Muita gente, principalmente do mundo acadêmico (universitário), artístico e intelectualizado (na verdade, pseudo-intelectualizado) escreve e fala dessa forma, por achar que, falando e escrevendo assim, vai adquirir status, demonstrar cultura, conhecimento, etc. Pura bobagem.

O Prof. Cury, no livro acima citado, faz uma curiosa comparação dessa gente “intelectualizada” com o personagem Fabiano, do romance Vidas Secas, de Graciliano Ramos.

Fabiano, pessoa de parcos recursos de expressão, às vezes decorava algumas palavras difíceis que ouvia e as empregava inteiramente fora de propósito. Assim agem esses “intelectuais” da turminha do “a nível de”, do “enquanto isso ou aquilo”.

Quando escrevemos ou falamos em público, temos de nos expressar da forma mais clara e simples possível, principalmente quando nos dirigimos a um grupo heterogêneo de pessoas, ou seja, pessoas de níveis socioculturais diferentes. Além disso, nós temos de saber o que estamos dizendo, o significado exato de cada palavra. Para facilitar nossa vida nessa aspecto é que existem os dicionários. Quando, por exemplo, quiser usar uma palavra, mas não sabe exatamente seu significa, não use. Substitua-a por um sinônimo que você conhece.

Inteligente é aquele que encontra soluções fáceis para problemas difíceis. Seja simples no uso da língua. Não queira demonstrar uma cultura, uma erudição que você não tem.




VIRACOPOS





Você sabe por que o aeroporto internacional de Viracopos, em Campinas, interior de São Paulo, tem esse nome?

Segundo o Prof. Luiz Antonio Sacconi, em seu livro NÃO ERRE MAIS! (8.ª edição, São Paulo, Editora Ática, 1986, página 139), Viracopos tem esse nome porque surgiu do fato de estar localizado num bairro de Campinas onde se localizaria a zona de meretrício, local de baderna, arruaça e bebedeira. A conseqüência disso, segundo Sacconi, eram mesas jogadas aoar e copos virados todas as noites. Iniciada a construção do aeroporto, comentava-se, em tom de galhofa, que o bairro iria ganhar mais um virador de copos (pelos deslocamentos de ar que os grandes jatos iriam provocar). Por causa disso, o aeroporto internacional de Campinas ganhou esse nome: Viracopos.




Qual o plural de FAX?






Dias atrás, um colega meu veio me perguntar se o que estava escrito num bilhete que ele recebera de outro colega estava certo. No referido bilhete, o sujeito pedia que fossem transmetidos alguns "faxes". Isso mesmo. FAXES. Só de ouvir a gente sente doer no ouvido, não é mesmo?

A palavra fax é uma abreviatua de fac-símile, do latim fac simile, que significa 'fazer semelhante', 'fazer igual'.

Fac-simile designa todo e qualquer processo de cópia de escrito, documento, desenho, etc. por meio mecânico, fotográfico, eletrônico, etc.

De fac-símile nasceu a abreviatura fax, que designa, hoje, o equipamento que reproduz documentos a distância, por meio de linha telefônica.

Que fique bem claro que fax é palavra invariável no plural.

Mandei um fax para ela.
Mandei dois fax para ela.
Mandei três fax para ela.




EM QUE PESE(M) A...




Às vezes é difícil saber o que é ou o que não é correto em português, pois há situações em que os próprios gramáticos não falam a mesma coisa.


Um exemplo disso é a construção em que pese.

Segundo o professor Sérgio Nogueira Duarte da Silva, em seu livro O PORTUGUÊS DO DIA-A-DIA (Rio de Janeiro, Editora Rocco, 2004, página 38), afirma que a locução é invariável quando se refere a pessoa. Veja:

Conseguimos o contrato em que pese aos concorrentes.

No entanto, quando se refere a coisas, o verbo pesar deve concordar com o sujeito da oração. Veja:

Vencemos em que pesem os argumentos contrários.

A mesma tese é defendida pelo saudoso Prof. Napoleão Mendes de Almeida e pelo NOVO DICIONÁRIO HOUAIS DA LÍNGUA PORTUGESA – edição eletrônica (“na locução em que pese a, a flexão pese permanece invariável, quando se tratar de pessoa (em que pese aos governistas, votaremos contra), e concorda com o sujeito, quando se tratar de coisa (em que pesem as suas contradições, a melhor tese ainda é a dele").

No entanto, outros gramáticos, como Domingos Paschoal Segalla e Luiz Antonio Sacconi entendem que se trata de uma locução prepositiva e, por isso, invariável: em que pesa a. O Prof. Segalla, inclusive, em seu livro DICIONÁRIO DE DIFICULDADES DA LÍNGUA PORTUGUESA (Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira, l996, página 106), cita vários exemplos de autores consagrados de nossa literatura, usando em que pesem a de forma invariável. Se não, vejamos alguns:


“Em que pese aos inimigos do paraense, sinceramente confesso que o admiro” (Graciliano Ramos – Linhas Tortas, pág. 48)
“E ficou estabelecido que no dia da soltura haverá chope, em que pese às Mariana e aos médicos” (Ciro dos Anjos, O Amanuense Belmiro, pá. 139)
“Em que pese aos seus oito batalhões, magnificamente armados, a luta era desigual” (Euclides da Cunha, Os Sertões, pág. 366)


Concorda com esta tese, também, o DICIONÁRIO ELETRÕNICO AURÉLIO – SÉCULO XXI, que define a locução em que pese a como invariável, como podemos depreender abaixo:

"Em que pese a.
1. Ainda que custe, doa, pese, a (alguém); mau grado seu: O emprego de o que em orações interrogativas é corretíssimo, em que pese a certos gramaticões.
2. P. ext. Apesar de; não obstante: "Ele [Tavares Bastos] foi mais do que uma esperança, foi uma ardente afirmação, em que pese a prematuração da morte." (Carlos Pontes, Tavares Bastos, p. 360); "Em que pese a necessidade de estrutura e de unidade para um romance, A Noite no Espelho [de Heitor Marçal] está muito acima da média do atual romance brasileiro." (Fausto Cunha, Situações da Ficção Brasileira, p. 50).

Pois é. Diante disso, fica difícil saber a forma mais adequada.

Eu, particularmente, prefiro concordar com Segalla, Sacconi e com o Dicionário Aurélio, pois trata-se de locução prepositiva em que pese a. Por isso, deve ficar invariável em qualquer situação.

Este é o meu ponto de vista, é claro.





A PRIORI e A POSTERIORI




Diz o Prof. Cláudio Moreno (1) que nada revela mais nossa ignorância que usar mal uma expressão latina.

Você, com certeza, já deve ter lido ou ouvido gente dizer absurdos como estes:

A priori, vamos analisar o assunto. A posteriori fazemos o negócio.
O juiz, a priori, analisou as preliminares, para somente a posteriori levar em conta o mérito da ação.

Nesses casos, usa-se erroneamente a priori em lugar da “antes” e a posteriori em lugar de “depois”. Equívoco, puro equivoco.

A priori é uma locução latina que significa 'pela causa', 'pela existência ou natureza da causa'.

Segundo o Prof. Cláudio Moreno, a locução latina a priori faz parte de uma expressão maior, a priori ratione quam experientia, que significa "por um raciocínio anterior à experiência". Uma conclusão a priori seria uma conclusão sem apoio nos fatos. Serve para indicar, por exemplo, um princípio que nós temos do qual, independentemente de qualquer coisa, não abro mão.

Não posso admitir, a priori, que alguém aqui seja impedido de manifestar sua opinião.

O Prof. Cládio Moreno nos informa que também pode designar um raciocínio que se baseia em pressupostos e que, portanto, não leva em consideração o que a experiência posterior possa trazer:

É perigoso condenar a priori essa experiência econômica (entenda-se: sem ainda ter visto seus desdobramentos e suas conseqüências).
Não se deve julgar uma pessoa a priori (sem conhecê-la antes).

A posteriori, conforme ensina o saudoso Prof. Napoleão Mendes de Almeida, em seu DICIONÁRIO DE QUESTÕES VERNÁCULAS (São Paulo, Editora Caminho Suave, 1981, página 04) é uma locução latina que significa “pelos efeitos”. Trata-se, como informa o Prof. Cládio Moreno, de parte de uma locução maior: a posteriori ratione, indicando que se trata de um raciocínio baseado no que veio depois. Num raciocínio a posteriori eu preciso apoiar-me na experiência, ou seja, em fatos obtidos pela observação ou pelo experimento. Muitas vezes, só depois de conhecer os resultados, as conseqüências, os efeitos, é que eu posso entender o que antes me escapava.

O Prof. Napoleão Mendes de Almeida nos dá dois exemplos bem didáticos:

A existência de Deus é comprovada a posteriori (pela existência do mundo). As leis do Estado são feitas a posteriori (são resultados das necessidades da sociedade).



Eu não me "adéquo". Isso existe?




Você já deve ter ouvido gente falar assim:

Espero que você se adéqüe ao trabalho.
Isso não se adéqua aos padrões desta empresa.

Que fique claro que isso não existe. O verbo adequar, no presente do indicativo, só se conjuga nas formas arrizotônicas, ou seja, nas primeira e segunda pessoas do plural (adequamos, adequais). O resto não existe. Nada de eu me adéquo, ele se adéqua, etc.

Não se conjuga, também, o verbo adequar no presente do subjuntivo. No imperativo afirmativo só é conjugado na segunda pessoa do plural (adequai).

As formas que não são conjugadas devem ser substituídas por formas dos sinônimos adaptar, ajustar, moldar.



De onde vem a palavra FAVELA?





Conforme nos informa o Prof. Domingos Paschoal Segalla, em seu DICIONÁRIO DE DIFICULDADES DA LÍNGUA PORTUGUESA (Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira, 1996, página 129), perto do Açude de Cocorobó, na Bahia, localiza-se o Alto da Favela, uma pequena elevação onde ficaram acampadas as tropas federais logo assim que terminou a Guerra de Canudos. O nome Alto da Favela deve-se a favela ou faveleiro, um tipo de arbusto abundante nesse morro.

Quando a Guerra de Canudos terminou, em 1897, um contingente das tropas federais desmobilizadas instalouse no Morro de Santo Cristo, no Rio de Janeiro, onde construíram barracos e deram ao lugar o nome de Morro da Fabela.

Em razão disso, todo conjunto de barracos e habitações toscas, construídos, em geral, em morros e nas periferias das grandes cidades passou a ser chamdo de favela.



REGAÇO





Você, com certeza, já ouviu muito frases como estas:

Meu trabalho ficou um regaço.
Ele regaçou o carro todo.
O carro dele ficou todo regaçado.
Vou fazer um regaço se ele não me atender.

Veja, também, este trecho de uma música sertaneja interpretada por Sérgio Reis:


Se Eu Vejo Em Outros Braços,
Vou Fazer Um Tal Regaço
E Meter Pinga No Meu Peito,
Nesta Casa Tem Goteira
Pinga Ni Mim, Pinga Ni Mim, Pinga Ni Mim.


Segundo o Dicionário Aurélio Século XXI (Edição Eletrônica), regaço é uma cavidade formada por veste comprida entre a cintura e os joelhos de quem está sentado; colo. Também pode ser dobra que o vestido forma levantando-se-lhe a barra, adiante. Pode ser, ainda, segundo o mesmo dicionário, espaço médio interior ou lugar de repouso e abrigo. Só. Não há nenhuma referência a coisa estragada, malfeita, desalinhada ou semelhante. Consultei, ainda, os dicionários Michaellis e Houaiss. Nenhum deles, igualmente, encampa tal significado à palavra regaço.

De onde vem, então, o hábito já bastante arraigado no interior de São Paulo de se utilizar o termo regaço como sinônimo de coisa estragada, malfeita, ruim?

Regaço vem do verbo regaçar, que tem a variante arregaçar, que é o ato de dobrar as mangas das caminhas ou as barras das calças.

Imaginemos que você está bem vestido para ir a uma festa. No caminho, um dos pneus de seu carro fura. Você, então, tem que trocá-lo. Para começar o trabalho de troca, a primeira coisa que faz, para se sentir mais à vontade, é arregaçar as mangas de sua caminha, para não sujá-las. Ao fazer isso, você perde um pouco de sua elegância, do rigor de seu traje. Talvez essa seja, mais ou menos, a analogia que o povo do interior paulista faz ao usar a palavra regaço ou o verbo regaçar com sentido pejorativo (coisa ruim, desajeitada, etc.).

Há, ainda, o som da palavra, que também pode provocar esse desvio semântico.

O fato é que, seja como for, o termo regaço, com o significado de ruim, estragado, malfeito, desajeitado, desalinhado, já se disseminou, principalmente na região oeste do Estado de São Paulo.

Coisas do idioma.




MANDADO e MANDATO




Não devemos confundir.

Mandado é um documento oficial, uma ordem judicial.

O juiz expediu um mandado para que os policiais entrassem na casa.
Nós entramos com um pedido de mandado de segurança.
Foi exigido mandado de busca e apreensão dos bens.

Mandato, por sua vez, já é uma autorização ou procuração que alguém confere a outrem para, em seu nome, praticar certos atos; uma delegação.

No dia 1.º de janeiro de 2007, o presidente Lula iniciará seu segundo mandato.
Cassaram o mandato daquele prefeito.
O seu mandato é de cinco anos.

Cuidado! Uma procuração, seja ela pública (lavrada em cartório) ou particular, é um mandato, uma delegação que você está outorgando a alguém, e não um mandado, como muita gente, erroneamente, diz.



POSTO QUE




Aqui, neste site, em outro tópico, eu disse que existe um soneto de Vinícius de Morais, denominado Soneto da Fidelidade, que, em sua última estrofe, diz o seguinte:


Eu posso me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure


Nesse soneto, o poeta usa a conjunção posto que com o significado de porque — “Que não seja imortal, posto que (porque) é chama”, usando o verbo ser no indicativo, e não no subjuntivo (...que é chama). Disse eu ainda que há quem afirme que no português contemporâneo também se está usando “posto que” na acepção de “porque”, sendo que, nesses casos, o verbo que segue vem no indicativo.

Não quero aqui desmerecer a saudosa figura de Vinícuis de Marais. Ele era um grande poeta. Visto, talvez, com um poeta meio de segunda linha pelos nossos estudiosos de literatura, pelos meios acadêmicos. Mas vejo aí um certo preconceito dessa gente, pelo fato de Vinicius ser popular, ligado à musica. O talento poético dele, no entanto, é indiscutível.

O que eu quero deixar claro, quando trato desse assunto, é que a Gramática tradicional classifica a conjunção posto que como concessiva, somente como concessiva (com o significado de embora, ainda que, apesar de que, etc.), e não como explicativa (no lugar de porque), como a emprega Vinícius nos versos acima. E as provas de língua portuguesa dos vestibulares e dos concursos públicos em geral são elaboradas sempre com base no que dita a Gramática tradicional.

Era isso que eu quero deixar claro.





ENDOSSAR UM CHEQUE






Você já ouviu muitas vezes essa expressão, com certeza.

Muita gente diz que o correto é avalizar, e não endossar. Nada mais equivocado.

Avalizar é dar um aval, uma aprovação, uma segurança ao título. Endossar, no entanto, significa transferir titularidade, assinando no verso do documento, geralmente cheque. Por que endossar? De onde vem essa palavra?

Endossar vem do francês endosser, que significa, no caso, 'escrever no verso'. nas costas. Endosser vem, por sua vez, do latim medieval indorsare (do lat. in- + dorsum,i 'costa', pl. dorsa 'costas').




RESTAURANTE




Todo o mundo gosta de comer fora, não é mesmo? Pelo menos, eu gosto. Imagine quem, diariamente, tem de "pilotar" um fogão. Nada como ter uma folguinha e fazer a refeição num bom restaurante.

E você sabe de onde vem a palavra restaurante?

Pois é! Até o século XVIII, os estabelecimentos comerciais que vendem refeições prontas eram chamados de casa de pasto. Isso mesmo que você leu. Afinal de contas, pastar é o mesmo que comer, alimentar-se. Hoje em dia, o verbo pastar é usado quase que exclusivamente em referência a animais (gado, carneiros, etc.). O verbo pastar vem do latim vulgar pastare, freqüentativo de pascere, 'pascer' (pastar).

Ocorre que, em 1767, abriu, em Paris (França), uma casa de pasto chamada "Restaurant" (Restaurante, em português). Desse nome comercial, surgido na capital da França, no século XVIII, vem a origem da palavra restaurante para designar estabelecimentos onde se vendem refeições prontas.




O certo é PEREIRABARRETENSE ou PEREIRA-BARRETENSE?




Há dúvida quanto à grafia correta do gentílico correspondente à minha cidade, Pereira Barreto.

Afinal de contas, é pereirabarretense (sem hífen) ou pereira-barretense (com hífen)?

A grande maioria das pessoas escreve pereirabarretense. Existe até o Clube Atlético Pereirabarretense. No passado, houve até uma tal de Comercial Pereirense de Veículos. Equívocos, puros equívocos!

A regra é clara e simples: usa-se, obrigatoriamente, hífen em gentílicos, ou seja, nomes derivados de nomes próprios, quando estes são compostos (Pereira Barreto é um nome próprio composto). Veja alguns exemplos: Mato Grosso/mato-grossense, Porto Alegre/porto-alegrense, Campo Grande/campo-grandense, etc.

Afinal, se quem nasce em Cândido Mota (SP) é candido-motense, se quem nasce em Francisco Sá (MG) é francisco-saense; se quem nasce em Pedro Avelino (RN) é pedro-avelinense; se quem nasce em Pedro Afonso (GO) é pedro-afonsino; se quem nasce em Luís Correia (PI) é luís-correiense; se quem nasce em Francisco Gomes (PI) é francisco-gomense, como registra o NOVO DICIONÁRIO AURÉLIO DA LÍNGUA PORTUGUESA,[1] claro está que quem nasce em Pereira Barreto (SP) é, sem a menor sombra de dúvida, pereira-barretense (com hifem).

Para quem ainda duvida, basta consultar o MODERNO DICIONÁRIO DA LÍNGUA PORTUGUESA MICHAELLIS, São Paulo, 1. ed., Companhia Melhoramentos, 1998, na página 1.595. Lá está, bem claro, o verbete pereira-barretense (com hífen): “adj m+f (top Pereira Barreto+ense) Relativo a Pereira Barreto, cidade e município do Estado de São Paulo. s m+f Pessoa natural desse município”.

Ob.: quando a eufonia não o permite, alguns gentílicos têm de ter uma forma especial. É o caso, por exemplo, de São José do Rio Preto — rio-pretense —, uma vez que não é possível dizer "são-josé-do-rio-pretense". É o caso, também, de joaquinense, natural ou relativo a São Joaquim da Barra (SP).
______________________________________
[1] HOLANDA, Aurélio Buarque de, Novo Dicionário da Língia Portuguesa, 2. ed, revis. e ampl. Rio de Janeiro, Edit. Nova Fronteira, 1986.


TODAVIA



Você, com certeza, já deve ter ouvido muita gente falando em espanhol, já que é uma das línguas mais faladas no mundo. Praticamente todos os países que fazem fronteiras com o Brasil têm o espanhol como seu principal idioma nacional.



Não sei se você notou, mas perceba que eles usam muito a palavra todavia. É um tal de todavia para cá, todavia para lá. Parece até o “né” dos japoneses.



Em português, essa palavra também existe, apesar de pouco utilizada. Trata-se de uma conjunção coordenativa adversativa, que exprime oposição, correspondente e mas, porém, contudo, entretanto, etc.



Ela quer ter dinheiro, todavia não trabalha.

Maria não era bonita, todavia cativava a todos pela sua simpatia.



Em espanhol, no entanto, a palavra todavia tem outro significado. É um advérbio e corresponde ao nosso ainda, indicando tempo, duração de uma ação.



Cuando me fui de su casa todavía no había llegado

Quando saí de sua casa você ainda não havia chegado.



Es muy rico, pero quiere todavía tener más dinero

É muito rico, porém quer ter ainda mais dinheiro.



Em espanhol, não existe a palavra ainda.

Nenhum comentário: